Nikolas Ferreira se converterá ao catolicismo?
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- Data 19 de janeiro de 2025
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Nikolas Ferreira, deputado federal pelo Partido Liberal (PL) de Minas Gerais, foi o parlamentar mais votado do Brasil nas eleições de 2022, recebendo mais de 1,47 milhão de votos. Natural de Belo Horizonte, Nikolas é evangélico e consolidou sua trajetória política com forte presença nas redes sociais, adotando um discurso conservador alinhado aos valores da direita cristã. Sua popularidade cresceu especialmente entre jovens e eleitores religiosos, destacando-se como uma das principais figuras da nova geração da direita brasileira.
Ele protagonizou o que parte da mídia, principalmente de direita, chamou de “Revolta do Pix”, ao fazer um vídeo que conta hoje com mais visualizações do que o número de brasileiros (mais de 300 milhões), causando uma das maiores crises do governo Lula em seu terceiro mandato. Mas não é exatamente sobre isso que eu quero falar neste texto. O que gostaria de abordar são as articulações estabelecidas por Nikolas com a chamada “bolha católica”. Alguns influenciadores e perfis católicos de direita têm chamado atenção para uma possível conversão de Nikolas ao catolicismo. Essa hipótese não é desarrazoada, pois encontra respaldo em postagens feitas por ele em suas redes sociais.
No Instagram, por exemplo, Nikolas recomendou o livro do padre Paulo Ricardo, Um Olhar que Cura: Terapia das Doenças Espirituais (2008), mencionou estar lendo a biografia de São Josemaría Escrivá, fundador da Opus Dei, e realizou uma live no Youtube com o padre Chrystian Shankar. Além disso, ele tem citado conceitos cristãos específicos da doutrina católica, como a “abertura à vida” no contexto conjugal — um princípio que reflete a disposição de casais católicos em acolher novos filhos, alinhando-se à visão da Igreja sobre o papel procriador do matrimônio.
Em um episódio que reforça essa aproximação, o Centro Dom Bosco — think tank católico ultraconservador — realizou uma live sobre a posse de Donald Trump, na qual citou o “fenômeno Nikolas Ferreira”, exaltando sua aparente abertura ao catolicismo e, inclusive, o convidando explicitamente a aderir à fé católica.
Outro elemento que ilustra a formação de uma coalizão ampla entre a direita e a extrema direita no Brasil é a ação do deputado federal por Minas Gerais, Eros Biondini (PL), católico ligado à Canção Nova — principal organização do catolicismo carismático brasileiro, tipicamente conservadora e que apoiou Jair Bolsonaro. Biondini protocolou na Câmara dos Deputados um projeto de lei cujo objetivo é diminuir a idade mínima para que candidatos possam concorrer aos cargos de governador e presidente no Brasil.
Diante disso, estaria Nikolas se convertendo ao catolicismo? O deputado, que foi aluno de Olavo de Carvalho — o ideólogo da direita que, enquanto católico tradicionalista, desprezava fortemente os evangélicos —, já conciliava o plano olavista de hegemonia cultural da direita com a pauta evangélica. Agora, porém, parece acenar também para as alas do catolicismo conservador.
Se Nikolas irá se converter ao catolicismo ou não, por ora, permanece uma incógnita. O que podemos observar, no entanto, é o seu protagonismo na construção de uma formação discursiva hegemônica dentro da extrema direita, que busca minimizar antagonismos internos e articular diferentes identidades políticas e religiosas em torno de um núcleo comum. Esse movimento, ao fortalecer uma coalizão ampla, evidencia a capacidade estratégica de redefinir fronteiras ideológicas e consolidar um projeto político que se apresenta como uma totalidade capaz de integrar demandas diversas sob um mesmo horizonte.
Renan Baptistin Dantas
Doutorando em Ciências Sociais (UNICAMP)
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