Levantamento bibliográfico sobre terapias alternativas
- Categorias Artigos, NUES
- Data 4 de maio de 2021
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Por Thaís Assis
A lista de referências bibliográficas apresentada a seguir reúne textos de cientistas sociais brasileiros que pesquisam terapias alternativas, holísticas ou, nos termos da saúde pública, práticas integrativas e complementares (PICs).
A lista é composta por trabalhos de autores que inauguraram os estudos sobre o tema no Brasil e inclui os textos de Leila Amaral (2000), Silas Guerriero (2003), José Guilherme Magnani (1999; 2000), entre outros, que tiveram grande impacto na área e contribuíram para a legitimação das terapias alternativas como objetos de interesse da sociologia e da antropologia. Em linhas gerais, ao associar as terapias ao arcabouço teórico-conceitual da Nova Era, as pesquisas desses autores deram destaque ao sincretismo, à autonomia individual e à desinstitucionalização das práticas terapêuticas alternativas. Tal tendência analítica se manteve predominante desde o surgimento de estudos sobre o tema na América Latina, na década de 1990, e continua influente nos estudos contemporâneos.
Além dessa primeira vertente intelectual, reuni a literatura contemporânea que está dedicada a pensar as terapias alternativas além do escopo da Nova Era. Uma das referências é a pesquisa de Fátima Tavares (2012) que investigou a rede terapêutica alternativa no Rio de Janeiro reconhecendo que há certo vínculo com o circuito de Nova Era, sem se limitar a ele. Pesquisas mais recentes feitas por Rodrigo Toniol (2015a; 2016) e pelos demais membros do Núcleo de Estudos em Espiritualidade, Ciência e Saúde (NUES) estão atentas aos desdobramentos do fenômeno que se intensificaram quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde brasileiro reconheceram a legitimidade do uso dessas terapias e instituíram sua oferta como política de saúde pública.
Essas escolhas se justificam, sobretudo, pelo viés analítico da minha pesquisa atual que enfoca o processo de distanciamento das terapias alternativas e holísticas dos demais conhecimentos, crenças e práticas difundidos junto ao movimento de Nova Era – e o processo de aproximação com as formas biomédicas de cuidado. O objetivo é compreender, através da análise da oferta de práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), os processos de legitimação e institucionalização das práticas integrativas e complementares como fatores de saúde, bem-estar e qualidade de vida. Por isso, tomei a liberdade de incluir algumas referências de pesquisadores da área de Saúde Pública cujas abordagens e metodologias são relativamente próximas às das ciências sociais. Faço, no entanto, a ressalva de que alguns desses pesquisadores também são atores-chave e atuam publicamente em defesa da oferta das medicinas e terapias alternativas e complementares no SUS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Leila. Carnaval da alma: comunidade, essência e sincretismo na Nova Era. Petrópolis: Vozes, 2000.
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BARROS, Nelson Filice; SPADACIO, Cristiane; COSTA, Marcelo Viana da. Trabalho interprofissional e as Práticas Integrativas e Complementares no contexto da Atenção Primária à Saúde: potenciais e desafios. Saúde Debate, v. 42, n. 1, p. 163-173, 2018.
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Fonte imagem destacada: https://estudiocontemplo.com.br/o-que-e-meditacao-guiada/
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