RELIGIÃO E POLÍTICA

Na história recente do país, cresce o pluralismo religioso que aponta para várias direções. Imersos nessa conjuntura, instituições, atores e moralidades religiosos ampliaram sua atuação no espaço público, tanto na vida social como nos sistemas político e jurídico. Dentre as direções, destaca-se o ativismo evangélico na esfera pública brasileira. Parcela significativa desta religiosidade faz parte, como causa e efeito, de um processo social mais amplo que caminha em direção a posições políticas-culturais acusadas de conservadoras. Isto posto, esta sub-linha pretende investigar a conjuntura político-religiosa contemporânea no Brasil com um duplo enfoque: por um lado, na atuação e nos valores políticos dos evangélicos mais visíveis na cena nacional e, por outro, no conservadorismo crescente no país. O argumento é que parcela desses religiosos está articulada a linhas de força em diferentes dimensões (econômica, moral, securitária e interacional) do processo social em curso no país e que configuram o que tem sido denominado com relativa imprecisão de “onda conservadora”. Como corolário, a laicidade emerge como um tema em disputa, uma vez que a quase totalidade dos atores (religiosos ou não) a assumem como valor e norma democráticos.

TRANSNACIONALIZAÇÃO E PENTECOSTALISMO

Pentecostalismo é uma das religiões que mais tem se globalizado no último século. Embora tenha nascido nos Estados Unidos, o Brasil se tornou um grande polo emissor do pentecostalismo para outras partes do mundo, principalmente América Latina e África, mas também em menor intensidade para os EUA, Europa e Ásia. Por outro lado, esse fenômeno transcultural ocorre no próprio país entre populações indígenas. Quais os mecanismos simbólicos e materiais para este processo de expansão do pentecostalismo?

TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL

O projeto se divide em duas dimensões analíticas. A primeira pretende, por meio de uma abordagem comparativa, analisar os mecanismos de integração social produzidos pelas redes de relações primárias e associativas, tais como as religiosas, as familiares, as de vizinhança, as de caráter civil etc., que se entrecruzam e se retroalimentam. A hipótese é de que estes vínculos são condicionados pela desigualdade social como em alguns processos de migração, contudo eles podem atuar também como mecanismos virtuosos de atenuação da vulnerabilidade social na medida em que, para além dos benefícios gerados neles mesmos, são também formas de acesso ao mercado de trabalho e às políticas públicas. A segunda dimensão pretende investigar como as pessoas organizam sua experiência urbana a partir do capital cultural, das práticas sociais, da rede de relações, dos usos da cidade e dos demarcadores simbólicos que estruturam o espaço. Em outras palavras, como o dinamismo metropolitano inflecte de forma específica sobre a experiência cotidiana das pessoas e dos diferentes grupos sociais. Em ambas dimensões a investigação recairá de forma mais específica sobre as transformações do universo religioso ocorridas, sobretudo, nos grandes centros urbanos.

PRESENÇA DIFERENCIADA DA RELIGIÃO NO ESPAÇO PÚBLICO

O projeto busca examinar, na relação entre religião e espaço público no Brasil contemporâneo, suas tensões e acomodações. Partindo de uma antropologia dos fenômenos da secularização e da laicidade, pretende-se demonstrar a porosidade do sistema público/político brasileiro com o meio religioso e a resultante disto, em termos tanto de confrontos quanto de colaboração. Busca-se compreender as narrativas pelas quais as religiões cristãs conservadoras justificam o direito a uma presença pública, sem a necessidade de aceitação à neutralidade de leis universais/constitucionais, acima do seu “direito religioso”. Da mesma forma, espera-se compreender os argumentos dos grupos cristãos que aceitam, dentro de suas práticas religiosas, as mediações da modernidade, possuindo uma visão inclusiva para temas de gênero, sexualidade, ambientalismo, etc. Almeja-se ainda compreender as estratégias dos atores sociais laicos, ativistas de direitos humanos, sociais e reprodutivos, ambientalistas, feministas, gays, LGBTQ+ e agentes estatais operadores de políticas públicas, em termos de confrontos e alianças com os grupos religiosos. Diante deste quadro, esta reflexão ambiciona contribuir para a interpretação da complexidade que significa a presença múltipla e contraditória na esfera pública, tanto das religiões majoritárias cristãs, assentadas em uma agenda de valores religiosos conservadores quanto de projetos liberais e libertários acionados por segmentos da sociedade civil e agentes públicos gerando tensões e dissonâncias