Fragmentos em linha reta
- Categorias COVID-19, Debates, Eventos, Novidades
- Data 5 de outubro de 2020
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Nesta crônica, são apresentadas livres reflexões sobre a mesa 6 do Seminário Reações Religiosas à Covid-19 na América Latina, que contou com as participações de Regina Novaes (UNIRIO/Brasil), como mediadora, e as apresentações de Luis Alonso Hernández (UNSAM/Argentina; UC/Venezuela), Alhena Caicedo (Uniandes/Colômbia), Paulo Fernando Carneiro (PUC-Rio/Brasil).
Fragmentos em linha reta:
contextos pandêmicos e reações religiosas
As muitas narrativas religiosas empenhadas em dar conta do surgimento do novo coronavírus e dos significados por trás de seus tristes efeitos, apesar dos pontos em comum, estão bem variadas. A grande parcela de ineditismo trazida pela pandemia não apenas suscitou muitas perguntas de caráter religioso acerca do momento em que vivemos como também inspirou muitas alternativas religiosas de como enfrentá-lo e de como manter o exercício da fé na quarentena.
Para começar, há uma pergunta que tem inquietado muita gente, especialmente grupos de fiéis cristãos: afinal, seria a pandemia um sinal do fim dos tempos? Não, segundo o papa Francisco.
Em seus discursos oficiais veiculados pela mídia, o papa tem afastado uma interpretação do fenômeno de cunho apocalíptico. Em vez disso, demonstra apostar mais na ideia de que a pandemia evidencia a necessidade de um ajuste da rota da vida por toda a humanidade, baseando-se na crítica às falsas e supérfluas seguranças das sociedades de consumo, seguranças estas asseguradas pelo modelo econômico vigente. Para tanto, o sacerdote chama a atenção para a chegada do tempo em que é preciso investir na solidariedade e na mobilização dos adeptos a serviço da comunidade.
Ademais, em seus comentários relacionados ao distanciamento social, o pontífice incentivou o cultivo de uma aproximação afetiva para com o próximo, o que reforça a noção de reconciliação entre os seres humanos que dá o tom de seus discursos sobre a pandemia.
Por outro lado, na Venezuela o governo decretou a medida de quarentena e usou outra versão possível de um discurso marcadamente religioso, sacralizando o advento do coronavírus. Combinando ideologias chavistas e cristãs, mensagens radicais inspiradas na ideia de regresso à terra prometida circularam pelo país, e à população foi recomendada a fé em Deus para enfrentar a Covid-19.
É interessante citar que mesmo com uma qualidade de internet comprometida e dos conflitos entre fiéis católicos que apresentaram divergências quanto à virtualização de seus cultos religiosos, consta no quadro venezuelano também a migração da eucaristia para as redes sociais. Em verdade, sabemos que a virtualização das atividades religiosas, devido à necessidade de quarentena, pode ser observada em muitos segmentos religiosos por todo o globo de maneira jamais vista, e tal iniciativa é muito bem-vinda àqueles que encontram nas transmissões ao vivo e demais mecanismos auxiliadores da prática religiosa à distância um espaço para o exercício de sua fé e espiritualidade.
O tema da espiritualidade, aliás, está muito em voga atualmente, ainda mais agora por conta do confinamento das pessoas em casa. Diante da miríade de cenários que a noção e a busca pela espiritualidade na forma de práticas várias evoca, vale mencionar, por fim, o drama indígena na Colômbia.
Lá, a espiritualidade indígena está legitimada pelo Estado como uma prática terapêutica, e o uso de plantas medicinais, como a ayahuasca, aceito como alternativa para tratamentos de saúde. Da parte dos nativos da Amazônia colombiana, contudo, corre denúncias de manipulação e mercantilização não autorizadas de sua medicina tradicional, sendo que a eles pesa a questão de um imaginário comum equivocado em torno de sua espiritualidade. Além disso, a concepção sobre espiritualidade indígena varia também entre os próprios nativos, pois depende da localidade e cosmologia à qual está inserida. Mesmo assim, reverbera em seus discursos o fato de que suas concepções nada tem a ver com os ideais religiosos cristãos ou com a imagem que em algumas religiões se faz de Deus e do sagrado.
No que tange à pandemia, fica ainda a crítica dos indígenas amazônicos às convicções dualistas e antropocêntricas das pessoas diante da “crise civilizatória que tomou a mundo”.
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