Lançamento da coletânea “The Secular Sacred”
“Como é que as emoções religiosas e o sentimento nacional se enredam pelo mundo? Ao explorar este tema, The Secular Sacred centra-se em diversos tópicos, tais como os papéis dinâmicos do Carnaval no Brasil, a contestação pública do ritual no norte da Nigéria, e a culturalização da tolerância secular na Holanda. As contribuições centram-se nas formas como a sacralidade e a secularidade se informam e reforçam mutuamente. Os estudos de caso oferecem uma abordagem de baixo para cima, orientada para a prática, na qual os autores desconfiam da utilização de categorias de religião e secularidade como termos descritivos neutros. Neste momento, tornou-se uma espécie de repetição obsoleta criticar a divisão religioso-secular. Somos parte integrante de um mundo no qual essas fronteiras se sobrepõem, são reivindicadas, contestadas, re-reivindicadas e re-contestadas de maneiras novas e dinâmicas. Se o debate sobre o pós-secular nos ensinou alguma coisa, é que as ferramentas com que trabalhamos estão implicadas nessas contestações. As noções de “secular”, “sagrado” e “religião” fazem parte de nossa caixa de ferramentas conceituais como objetos de investigação. Para ilustrar como estamos sempre no meio das coisas, e para ver como deveríamos, se quisermos compreender os enredos da sacralidade, da religião e da laicidade, pensar a partir da práxis, optamos por começar in medias res. Portanto, abrimos esta introdução em Bangkok, Tailândia, em 26 de outubro de 2017 para ser mais preciso, quando os rituais de luto pelo rei recentemente falecido estão prestes a atingir seu ápice.”
É assim que começa a introdução traduzida da coletânea The Secular Sacred: emotions of belonging and the perils of nation and religion. Publicada pela Palgrave Macmillian em setembro de 2020, a obra foi organizada pelos pesquisadores do Instituto Merteens em Amsterdã: Markus Bankehol, Ernst van den Hemel e Irene Stengs. Tanto a introdução dos organizadores, como o epílogo de Birgit Meyer, estão disponíveis em acesso aberto assim como grande parte do livro pode ser consultada no Google Books.
Em parceria com Martijn Oosterbaan, sou co-autor do capítulo seis da coletânea, intitulado Samba Struggles. Fruto de uma conversa iniciada com a participação de Oosterbaan em uma reunião do LAR, conta com o seguinte resumo traduzido:
“Este capítulo analisa os desfiles de carnaval contemporâneos no Rio de Janeiro e em São Paulo como reflexos das lutas atuais em torno do caráter religioso da nação. Nosso argumento geral é que, embora os brasileiros geralmente considerem o carnaval uma herança nacional ‘sagrada secular’, várias organizações religiosas se esforçam para tornar o carnaval novamente religioso. Desfiles de carnaval estão entrelaçados com configurações históricas do nacionalismo brasileiro, do catolicismo e das religiões afro-brasileiras. Essa configuração religio-nacional é atualmente contestada por movimentos cristãos evangélicos que cresceram substancialmente e ganharam muito poder político. Alguns grupos evangélicos viram as costas para as festividades do carnaval, mas muitos grupos atualmente celebram seu próprio carnaval gospel durante as celebrações do carnaval nacional e organizam seus próprios desfiles. Neste capítulo, sustentamos que os desfiles de carnaval evangélicos que descrevemos mostram o desejo das organizações evangélicas de reformar os desfiles carnavalescos para que os grupos evangélicos também possam participar das tradições carnavalescas e se inscreverem em representações da nação. Argumentamos que a escola de samba selecionadas e os desfiles que descrevemos demonstram a aspiração de organizações católicas e afro-brasileiras de repelir a invasão evangélica e defender sua identidade como parceiras privilegiadas da nação”.
A seguir, listo o índice do livro:
1. Introduction: Emotional Entanglements of Sacrality and Secularity—Engaging the Paradox – Markus Bankehol, Ernst van den Hemel e Irene Stengs
2. The Boomerang-Effect of Culturalized Religion: The Impact of the Populist Radical Right in Confessional Politics in the Netherlands – Ernst van den Hemel
3. “We” and “The Others” as Constituents of Symbolic Politics: On the Populist Exploitation of Long-lasting Nationalist Sentiments and Resentments Regardings Citizenship in Germany – Irene Götz
4. Religion, Aesthetics, and Hurt Sentiment: On the Visibility and Erasure of a Muslim Minority in Hindu India – Stefan Binder
5. Spatial Piety: Shia Religious Processions and the Politics of Contestations of Public Spaces in Northern Nigeria – Murtala Ibrahim
6. Samba Struggles: Carnaval Parades, Race and Religious Nationalism in Brazil – Martijn Oosterbaan and Adriano Santos Godoy
7. “Homo Sanctus”: Religious Contestations and the Sanctification of Human Rights in Vietnam – Oscar Salemink
8. Secularist Nativism: National Identity and the Religious Other in the Netherlands – Jan Willem Duyvendak
9. Dutch Tolerance in Black and White: From Religious Pragmatism to Racialized Ideology – Alex van Stipriaan
10. Colonial Heritage and the Sacred: Contesting the Statue of Jan Pieterszoon Coen in the Netherlands – Markus Balkenhol
11. Rooted in the Sacred? On Mark Rothko, Tears Flowing, and Enargeia – Herman Roodenburg
12. Disgust and Difference: Conflicting Sensations of the Sacred – Jojada Verrips
13. United in Competitive Mourning. Commemorative Spectacle in Tribute to King Bhumibol Adulyadej of Thailand – Irene Stengs
Epilogue – Birgit Meyer
