A ontologia e o método
- Categorias Debates, Novidades, Virada ontológica
- Data 20 de maio de 2020
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Texto de Rodrigo Toniol para o DIVERSA
De onde vem a desconfiança dos pesquisadores da religião com relação à virada ontológica? Tenho uma aposta. As críticas pós-coloniais e os trabalhos de Talal Assad sobre a noção de religião nos tornou reticentes quanto a qualquer movimento analítico que parta de uma entidade ou categoria estável e totalizante sobre o mundo. Curiosamente, ao que me parece, a virada ontológica pode remeter a uma perspectiva de análise totalizante, que parte de uma substância invariável e, por isso, desperta algumas resistências. Contudo, se esse for o caso, acho que é preciso desfazer alguns mal entendidos. Na virada ontológica, a ontologia não é substantivo, mas sempre adjetivo ou advérbio. Isso é, pesquisar a partir das questões colocadas pela chamada virada ontológica não significa reconstruir a ontologia de um grupo ou descrever sua realidade última. Partir da virada ontológica significa apenas perguntar-se sobre questões ontológicas sem fazer da ontologia a resposta para essas perguntas. Trata-se, nesse caso, de um princípio metodológico de abertura para que outras ontologias afetem nossa disciplina. Nessa formulação pouco haveria de especial ao campo da religião para que a virada ontológica fosse mais ou menos produtiva nele. Minha posição é a de que se não tomarmos ontologia como substantivo, mas sim como o advérbio ou o adjetivo de um movimento metodológico, esse turn é promissor. Afinal, ele pode deslocar nossos horizontes de reflexão e nos permitir imaginar melhor como os Outros imaginam o mundo e como essas outras formas de imaginação também podem nos fazer imaginar diferente.
Graduado em ciências sociais, mestre e doutor em antropologia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou estudos de pós-doutorado no departamento de filosofia e estudos de religião da Utrecht University, Holanda. Atualmente é professor no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Unicamp. É presidente da Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul (2018- 2020). Coordena do projeto de pesquisa “Espiritualidade institucionalizada”, apoiada pela Fapesp na modalidade Jovem Pesquisador
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